Foi no bairro da Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro, que a jornalista Gloria Maria viveu os últimos cinco anos de sua vida com as filhas Maria e Laura. A ‘casa amarela’, descrita pela própria como “a sua casa” desde a primeira vez que a viu, tinha “classe, praticidade e natureza” e foi onde a jornalista promoveu encontros, gravou programas, fez entrevistas durante a pandemia e viveu após descobrir a doença. No último episódio de ‘Gloria’, que vai ao ar neste domingo, dia 18, a série documental revela como a jornalista sempre acreditou na vida e lutou por ela.
Foi durante uma reportagem que Gloria descobriu que deveria cuidar da saúde do pulmão. O produtor Jorge Ghiaroni revela à série que em uma viagem a Hong Kong, na China, Gloria conversou com um monge em um templo e recebeu premonições sobre sua doença e sobre a partida da sua mãe. Pouco tempo depois, tudo se concretizou. O amigo e produtor Luiz Costa Jr, que esteve com Gloria quando ela sofreu um desmaio em casa, em 2019, que levou à descoberta de um tumor, conta o que Gloria Maria disse ao descobrir o câncer com depoimentos da própria jornalista e mostra o seu desejo em transformar a luta contra o câncer em um ‘Globo Repórter’ sobre superação.
Pioneira, Gloria Maria inspirou e abriu caminhos para muitas jornalistas negras. No episódio deste domingo, a apresentadora Maju Coutinho relembra o início da sua carreira como radioescuta e em uma viagem para Gana, na África, fala o que Gloria representou e relaciona a história da jornalista com um ditado iorubá que fala como uma ação do passado pode impactar no presente e no futuro. “‘Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que só jogou hoje’. O que Gloria fez como jornalista ao longo de cinco décadas foi muito forte. Ela é gloriosa mesmo, inspiradora. A gente respira o aroma de Gloria e segue com essa coragem de seguir, do nosso jeito. A imagem dela é tão potente e tão avassaladora que ela criou uma geração de herdeiras e herdeiros que estão aqui hoje por causa dessa figura. Se eu estou no palco do Fantástico, que é um palco que Gloria também já esteve, é porque Gloria é”, afirma a apresentadora.
A repórter Zileide Silva, primeira agraciada pela Câmara dos Deputados com o Prêmio Glória Maria, criado para homenagear profissionais de destaque na área, revela à série a sua definição sobre a colega. “A palavra que define Gloria para mim é desbravadora. É sobre abrir caminhos, abrir portas, abrir espaços. Ela abria a porta, te recebia do lado de dentro, te dava a mão e falava ‘vem’. Imagino a dificuldade que foi para ela segurar um microfone pela primeira vez. É um peso. Ser jornalista é de uma responsabilidade tremenda. E no caso de repórter, negra, de televisão, começou com a Gloria”, afirma. Dulcineia Novaes, repórter da RPC, afiliada da TV Globo em Curitiba, conta como a imagem de Gloria Maria foi importante para a sua trajetória da TV. “Eu lembro que eu ainda estava no curso de Jornalismo e já ficava admirada de ter uma repórter de cabelo curtinho, negra e ficava pensando como ela chegou até ali. Quando eu vim para a redação da TV, encontrei a Gloria no corredor e ela me reconheceu… foi muito especial”, conta a repórter.
A jovem Mirella Archangello, que aos 11 anos brincava de produzir reportagens com os irmãos em seu bairro localizado na cidade de Ribeirão Preto e, após viralizar, recebeu a visita de Gloria Maria junto com o Fantástico, conta como foi importante estar frente a frente com sua maior inspiração. “Não tem como não me emocionar. Essa foi a melhor escolha que o destino poderia ter colocado no meu caminho. Essa Mirella Archangelo que estou me tornando e que tem como legado Gloria Maria é a melhor versão que eu poderia me tornar. A todo momento que eu revejo aquele vídeo, eu penso o que seria de Mirella se Gloria Maria não tivesse vindo? Quem eu seria hoje?”, questiona. Aos 18 anos de idade, Mirella hoje realiza o sonho de cursar Jornalismo.
Gloria foi uma referência não somente para comunicadoras, mas também para os telespectadores que acompanhavam suas reportagens na TV. O rapper Mano Brown, que recebeu Gloria Maria em seu podcast em 2021 e se tornou amigo da jornalista, fala quando a viu pela primeira vez e sobre a importância da sua trajetória. “Eu sou de 1970, era uma criança bem pobre e via televisão pela janela do vizinho. Já era ela lá. Eu entendo que a Gloria Maria é uma matriarca, uma filosofia de vida e uma figura de resistência para as mulheres. Ela é gigante, uma força ancestral. E ela sabe exatamente quem ela era”, afirma.
O último episódio da série documental ‘Gloria’ vai ao ar neste domingo, dia 18, logo após o ‘Fantástico’.