O estudo KEYNOTE-A18 vem mostrando avanços a passos largos no combate ao câncer do colo do útero localmente avançado e de alto nível. Através do uso do imunoterápico pembrolizumabe combinado ao atual padrão de tratamento da doença, foi possível abordar uma nova alternativa terapêutica, que vai além da quimiorradioterapia isolada. Dentre os resultados foi possível destacar uma melhora significativa na sobrevida livre de progressão da doença.
Durante o congresso de 2023 da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO, em inglês), em Madri, na Espanha, Domenica Lorusso, primeira autora do estudo e professora de Obstetrícia e Ginecologia na Universidade Católica de Roma, apresentou os resultados encorajadores deste estudo de fase 3.
Para Angélica Nogueira, oncologista da Oncoclínicas e uma das colaboradoras do estudo, este pode ser considerado um dia histórico no combate ao câncer do colo do útero. “Após mais de 20 anos sem avanços terapêuticos no cenário da doença localmente avançada, a análise revelou que o acréscimo da imunoterapia impacta significativamente a sobrevida livre de progressão de doença”.
Ela explica que pacientes com câncer do colo do útero localmente avançado e de alto risco geralmente possuem um prognóstico ruim, com mais da metade apresentando recorrência da doença em períodos médios de dois anos. “Os resultados da análise recém divulgada são encorajadores diante de um cenário que exige a abordagem de novas opções de tratamento para essas mulheres para além das sessões de radioterapia e quimioterapia. É um avanço que, de fato, pode levar a uma mudança relevante nos protocolos atuais de tratamento da doença”, frisa a oncologista brasileira.
“Os resultados mostrados até aqui são positivos, favorecendo a adição de imunoterapia aos protocolo de tratamento padrão, baseado no uso de cisplatina, radioterapia externa e braquiterapia. Apesar dos dados ainda não serem maduros suficientes para que a gente possa afirmar que essa associação traz benefícios também à sobrevida global das pacientes, o ganho de sobrevida livre de progressão neste contexto, ao meu ver, pavimenta caminhos para, em um futuro bem próximo, nós passarmos a prescrever essa combinação para tratar casos de câncer do colo do útero localmente avançado”, comenta a oncologista Andreia Melo e também uma das colaboradoras do estudo.
Cenário da doença
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2023 cerca de 17.010 mulheres serão diagnosticadas com câncer do colo do útero no Brasil a cada ano, o que representa um risco considerado de 13,25 a cada 100 mil casos. Vale lembrar ainda que a doença é o terceiro tipo de câncer que mais afeta o público feminino, por isso, é muito importante que o diagnóstico seja feito o quanto antes para o início do tratamento.
Uma das ferramentas essenciais para a prevenção primária à doença é a vacinação contra o HPV, disponível para crianças a partir de 9 anos de idade em toda a rede pública do país. Além da imunização, que idealmente deve acontecer antes do início da vida sexual, é importante realizar os exames de rotina ginecológica, como o Papanicolau (anualmente e depois a cada três anos), dos 25 aos 64 anos de idade. O exame deve ser feito mesmo se a mulher for vacinada contra o HPV, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos do vírus.
Quando detectado em estádios mais avançados, o tumor do colo do útero pode levar à grande perda de sangue – podendo causar anemia, dores nas pernas e costas, problemas urinários ou intestinais e perda de peso não justificada. Além da quimiorradioterapia isolada, adotada nos casos avaliados pela pesquisa apresentada na ESMO 2023, as alternativas atuais para o tratamento do câncer do colo do útero podem ainda ser baseados em cirurgias (retirada do tumor ou ainda do útero por completo quando necessário), radioterapia e/ou quimioterapia, de acordo com a classificação e estadiamento do tumor.