sexta-feira, novembro 8, 2024
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Público feirense lota teatro em palestra da professora e escritora Bárbara Carine

Na terça-feira (5), aconteceu a primeira edição do evento de valorização da cultura negra, ‘AFRO CONECTA; Diálogos Culturais’, no Centro de Cultura Amélio Amorim, em Feira de Santana. A cerimônia, que teve ingressos esgotados com menos de 24 horas após liberação da venda e também arrecadou alimentos para doação, teve o objetivo refletir sobre as heranças e celebrações da cultura afro-brasileira.

Através de uma programação diversificada com música, capoeira, poesia, venda de artesanatos e a palestra da Professora Doutora, Bárbara Carine, Idealizadora e Consultora Pedagógica da Maria Felipa (primeira escola afro-brasileira do Brasil) e indicada 3 vezes ao Prêmio Jabuti de literatura.

Bárbara Carine compartilhou reflexões sobre uma educação antirracista, engajada e emancipatória, conceitos ela desenvolve na sua obra ‘Como ser um educador antirracista’, também citou a importância da temática: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil, ter sido abordada na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2024. Com ampla bagagem profissional e pessoal, a autora aborda a temática em suas redes sociais por meio do perfil (@umaintelectualdiferentona), que já soma cerca de 600 mil seguidores no Instagram, em entrevista ao Jornal Folha do Estado, explicou o motivo de se considerar “Diferentona” no meio acadêmico.

“Olha, é diferente no sentido de viver a sua intelectualidade e de produzir a sua intelectualidade. Eu vivo uma intelectualidade que se desassocia do eurocentrismo, do ‘brancocetrismo’, de um padrão intelectual, de uma métrica de produção intelectual, de referências teóricas que a gente tem que seguir e reverenciar, de metodologia de pesquisa, de escrita, de formas de se comunicar. Então eu sou disruptiva com esse processo e obviamente que tem muito desse lugar também de reconhecênça, enquanto uma mulher negra periférica, quilombola, que não negocia sua existência. Então se eu gosto de pagodão, eu vou continuar gostando de pagodão, não sou obrigada a gostar de música clássica porque   eu sou intelectual. Se eu tiver minha cultura popular da minha quebrada, ela vai estar viva e vai estar presente comigo na minha intelectualidade também. Eu não preciso abrir mão de quem eu sou para acolher uma dimensão intelectual pautada pela branquitude. Então acho que é por isso que é intelectual de diferentona”, explica.

Foto: Reginaldo Junior / Portal MF

A escritora soteropolitana fala da exclusão no meio acadêmico, mesmo atuando em instituições estaduais e federais na Bahia, que é o estado com a maior proporção de pessoas pretas no Brasil, de acordo com o IBGE.

“O espaço onde eu trabalho nunca me parabenizou pelas três indicações da Jabuti que eu tive. É um lugar, é um espaço também de pensar uma não legitimação de uma intelectualidade, é um espaço também de pensar o não reconhecimento de uma luta, o não reconhecimento de uma produção intelectual reconhecida nacionalmente. É como se, bom, para o mundo é importante, mas aqui a gente não reconhece. Então, óbvio que esse racismo está presente na academia, nesse lugar de apagamento, o que eu percebo é isso. Mas, sinceramente, hoje eu estou falando isso, não é nenhuma dor, até já foi. Mas hoje aqui é uma constatação, simplesmente”.

Escola Afro-Brasileira Maria Felipa

Bárbara é uma das fundadoras da Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, a primeira instituição de ensino afro-brasileira registrada pelo Ministério da Educação. A escola é um marco no sistema educacional brasileiro, oferecendo um currículo trilíngue (Português, Inglês e Libras) e focado na valorização da identidade negra e de acordo com a idealizadora, há uma pretensão de transformar a Maria Felipa em método.

“A gente não tem muita comunicação com o MEC, mas já teve comunicação com o Ministério da Igualdade Racial. No MEC, tudo que a gente tem hoje é um reconhecimento e autorização para funcionar enquanto escola. Mas eu gostaria muito de construir parcerias com o Ministério da Educação no sentido de abrir o nosso currículo, de abrir o nosso projeto político pedagógico para impulsionar outros projetos, para fortalecer outros planejamentos, inspirar outros projetos. Então eu acho que é uma escola que sim tem muito a ser replicada, sobretudo, nas instituições públicas de ensino. Há um interesse sim em pensar em um sistema Maria Filipe de educação e que seja replicado por outras instituições, obviamente, a partir também das suas demandas territoriais, dos ajustes a esses múltiplos contextos. A gente tem um país de dimensão continental, com muitas culturas. Óbvio que essa coisa do método é uma coisa meio pasteurizada de aplicação, mas como uma referência para que as pessoas ajustem às diferentes realidades educacionais do nosso país”, diz.

“A gente está educando as crianças, a gente está se organizando de perspectiva comunitária, assistindo a políticas e condições, mesmo que pareçam que as vezes que a gente não tem avançado e pensar até que estamos elevando muitas barreiras, mas   temos sim conquistado espaços inimagináveis. Então, vamos sofrer isso, não transformar em ‘oba, oba’ e entender que tem uma dimensão que possamos celebrar a nossa existência e ter uma perspectiva futura”.

Foto: Reginaldo Junior / Portal MF

Homenageados

O evento, organizado pelos jornalistas Lurdes Rocha, Luís Santos e Frei Cal, contou com a participação de várias personalidades feirenses ativistas na luta contra o racismo, como o cantor e compositor Gilsan, a educadora Hely Pedreira, Lourdes Santana, presidente do Grupo Odungê, Val Conceição presidente do Movi Afro, a arte educadora Carmem Silva, Luma Eduarda, atriz e poetisa, a escritora Carol Vilarinho, Mariane Oliveira presidente da Comissão de Igualdade Social OAB/Feira, o vereador Jhonatas Monteiro e do Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas entre outros.

As personalidades foram homenageadas e reconhecidas por suas contribuições para a sociedade no palco, ao lado dos organizadores e da palestrante.

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