As doenças inflamatórias intestinais atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP). E a taxa de crescimento é assustadora, chega a 15% ao ano. Entre os problemas, a doença de Crohn predomina. O estudo “Tendências temporais na epidemiologia das doenças inflamatórias intestinais no sistema público de saúde no Brasil: um grande estudo de base populacional“, publicado na revista The Lancet Regional Health Americas, apontou que a doença de Crohn cresce 12% ao ano no Brasil.
A princípio, a doença em si não deveria ser um impedimento para a gravidez, o problema é que seus sintomas podem criar condições desfavoráveis para ela. Baixo peso, menstruação irregular ou aderências nos tecidos operados durante as cirurgias podem dificultar que isso aconteça.
“A doença de Crohn costuma apresentar sintomas como cansaço intenso, dores abdominais, lesões internas ou problemas digestivos que às vezes produzem queda significativa da libido em ambos os sexos, tornando também a possibilidade de gravidez difícil”, explica a Dra. Genevieve Coelho.
Esta patologia crônica provoca inflamação em diferentes partes do sistema digestivo, com sintomas que se manifestam de forma intermitente. Períodos de surtos ativos normalmente alternam com estágios de inatividade, nos quais os sintomas estão em remissão. Nos casos mais graves, às vezes é necessária cirurgia para controlar os efeitos da doença.
“Especificamente, o principal problema é encontrado quando esses pacientes são submetidos a cirurgia para manter a doença sob controle, pois, às vezes, se desenvolve tecido cicatricial na pelve ou nas trompas de falópio e isso posteriormente dificulta a fertilização. Isso ocorre porque, às vezes, essas aderências obstruem as trompas de falópio, mas felizmente as alternativas oferecidas pelas técnicas de reprodução assistida são compatíveis com essa situação”, explica o Dr. Manuel Muñoz
Os especialistas geralmente recomendam que uma mulher com doença de Crohn espere até que sua doença esteja em remissão por pelo menos 3 a 6 meses antes de engravidar. Nos casos mais graves, pode-se até considerar a possibilidade de adiar a cirurgia após se tornar mãe.
O problema não atinge apenas as mulheres. Alguns homens afetados pela doença de Crohn podem inicialmente apresentar baixa qualidade do sêmen, devido à desnutrição causada pela deficiência de nutrientes e micronutrientes. Mas, além disso, alguns dos medicamentos indicados para o manejo da doença podem reduzir temporariamente a fertilidade em pacientes do sexo masculino. Especificamente, a sulfassalazina pode causar menor produção e pior mobilidade dos espermatozoides, enquanto o metotrexato pode afetar a sua correta formação. Este efeito é geralmente reversível e os níveis de fertilidade geralmente se recuperam dois ou três meses após a interrupção (mesmo que temporária) da medicação. Mais a nível funcional, e nos casos mais graves, os abcessos e fístulas na região pélvica e anal também podem causar alguns problemas de ereção e ejaculação.