O Grupo Recorte de Teatro traz de volta aos palcos a peça teatral aclamada pelo público em uma nova temporada nos dias 12 e 13 de maio, às 20h, no Teatro do Cuca. Os ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla ou na bilheteria do teatro nos dias das apresentações.
Desde a sua estreia, em 2019, a obra é sucesso de público e crítica, por contar a história de Lucas Evangelista, um negro escravizado que fugiu, indo contra o sistema no qual vivia, passando mais de 20 anos entre as matas e estradas que ligavam Feira a outras cidades do interior da Bahia, se tornando um símbolo de resistência. Infelizmente, pouco se sabe sobre a sua trajetória antes de se tornar uma lenda viva, e foi pensando nisso que o autor e diretor do espetáculo, Fernando Souza, que também é historiador, decidiu escrever sobre Lucas da Feira. “Conheci a história de Lucas na faculdade e sempre me causou muito interesse. Li muito, teses de doutorado, dissertações de mestrado e conversei com pessoas. Fiz uma pesquisa bem apurada e tentei trazer isso para o texto teatral”, disse.
O espetáculo tem um processo de construção e pesquisa do século XIX bem fundamentado e bastante dinâmico com 14 atores em cena, que se dividem em mais de 32 personagens, para falar sobre a figura histórica e as mazelas deixadas pelo sistema escravista. E além de contar com uma trilha sonora original, traz discussões como racismo estrutural, patriarcado, machismo e abusos a que os pretos eram submetidos, principalmente sexuais com relação às mulheres escravizadas.
A história de Lucas da Feira divide opiniões. Há quem acredite que o sujeito foi um herói, símbolo de sobrevivência, resistência e luta, enquanto outros acreditam que ele foi um bandido. Porém, o Grupo Recorte se destaca por trazer em seus trabalhos realismo, pesquisa, humor e crítica social, logo, o intuito é sempre propor a reflexão e não levantar bandeiras.
Ao ser indagado sobre o porquê é importante falar de Lucas da Feira em 2023, o ator Tom Nascimento, que interpreta Lucas Evangelista em sua terceira fase, diz que “falar de Lucas da Feira é necessário não só em 2023 e sim a todo tempo, porque falar dele é falar da história de Feira de Santana, é fazer perpetuar a nossa história, a história dos nossos ancestrais, é lembrar que antes da gente, vieram outros que lutaram, mesmo que à sua maneira – e aqui eu não estou valorando se Lucas foi herói ou bandido – e sim que foi uma pessoa que se rebelou contra o sistema escravocrata da época e não aceitou sua condição de escravizado. Então essa memória não pode ser perdida.”